quinta-feira, 3 de março de 2016

O "Dia" em que eu parei de contar

Nunca pensei chegar um dia em que iria parar de contar os dias ... Mas foi hoje. Hoje acordei e parei de contar.
Olhando para trás, há precisamente um ano, eu tinha começado a pensar se alguma vez me livraria "disto". "Isto" que me atormentava durante noites sem fim, e que hoje não passa de mais um pedaço de mim. "Isto" ... sou eu! E tendo em conta que há um ano não sabia o que era "Eu", hoje tenho algumas certezas do que "Eu" sou.
Os dias passaram, as noites foram melhor dormidas, e eu cheguei à conclusão que não se trata de continuar ou desistir ... Trata-se de aprender a conviver comigo mesma. Trata-se de saber qual é a decisão que eu quero tomar ... Trata-se do que Eu quero fazer de mim!
E mais importante do que chegar em frente a um muro e pensar "Não, eu não consigo" ou "Sim, eu consigo", é parar ! 
Parar não significa perder, ou dar-se por vencido! Significa ser sensato, e ser capaz de ponderar se eu quero ou não ver o que há do outro lado.
"Mas o que é que eu quero para mim, afinal?"
Na altura em não queria nada disto. Eu queria dar a voltar e enfiar-me na cama da minha mãe. Queria que o meu pai me pusesse às cavalitas e que a minha mãe me empurrasse para o lado de lá! Afinal, para que é que eles servem?!
Graças a Deus que eles não caíram na tentação de o fazer ...
Então eu fui obrigada a tomar decisões, decisões de mim para mim.
Hoje acordei e olhei para trás. 
Foi uma viagem turbulenta, e incrivelmente agonizante! Porém, hoje tenho todo o prazer em dizer que Eu tomei todas as decisões que podia tomar ... por mim!
Não esqueço, claramente, os empurrões que me auxiliaram. "Vai em frente, tu consegues. Porque raio não haverias de conseguir?" ... Porque raio?
Hoje acordei e parei de contar. E nada sabe tão bem.

sábado, 26 de setembro de 2015

Dia 292

Para ficarmos mal basta estarmos bem, não é assim?
Para ficarmos doentes basta termos saúde.
E para ficarmos felizes basta estarmos tristes.
Resumo: a vida é uma malvada. E no entanto faz tanto sentido que assim o seja.
Não me levem a mal, eu também gostava de ter tudo na mão apenas com um piscar de olhos! Mas sinto que se assim o fosse não valeria a pena estarmos vivos.
A vida é malvada. E é a lutar por ela, que nós a vivemos.
Todos os dias são uma luta constante para encontrar a felicidade. E ainda assim nunca seremos plenamente felizes.
Nesta fase da vida vejo-me muitas vezes a lutar contra mim própria, no sentido em que não consigo perceber como é que eu posso lutar por algo que eu não vejo. Sim, eu não vejo o meu futuro! Como é que eu posso lutar pelo meu presente, se não faço ideia que é o que me satisfará no futuro?
Como é que eu sei?
Infelizmente a vida, a felicidade e o futuro não têm guias orientadores com "dicas" sobre "como fazer, o que fazer, quando fazer".
Vivemos constantemente de luz apagada pensando que os cegos são apenas aqueles que não conseguem ver, quando na verdade ninguém sabe o que é que anda aqui a fazer.
Confesso: eu não sei. Mas todos os dias servem para trilhar caminhos novos e apagar aqueles que ontem tomámos como os mais acertados.
Cansa estar constantemente a escrever e a apagar, a desenhar e a planear ...
A única solução que encontro é viver um dia de cada vez, sem fugas nem choros!
A mim prometeram-me a felicidade, não a facilidade.

quarta-feira, 29 de abril de 2015

Dia 132

É doloroso quando o desgaste psicológico nos abate de tal forma que deixamos de confiar em nós.
Eu aprendo todos os dias, e todas as semanas, que não deves deixar que as tuas inseguranças façam de ti aquilo que querem. Se isso acontecer ...
Na vida só temos uma palavra: ou é "Sim" ou é "Não" e não pode haver meio termo.
Tu não és "meio feliz" porque se não és feliz, és infeliz automaticamente.
Tu não és "meio bom" porque se não és bom, és mau.
É importante que não tomemos nada por garantido. Assim como é importante termos a consciência de que as escolhas que fazemos se refletem no nosso futuro.
Desde miúda que eu sempre tive muita certeza do que queria fazer. Até que tive uma quebra, e a minha mente começou a apoderar-se de tudo um que eu outrora tinha sido.
As pessoas olham para mim e dizem "Tu não mudas" ... Ninguém se apercebe do sofrimento constante que é ter de fazer decisões com uma cabeça que não para.
É mais difícil ainda pensar com uma cabeça inconstante, que não sabe o que quer e que aproveita todas as dificuldades para se desviar dos obstáculos em vez de os ultrapassar! A minha cabeça é assim. E eu sofro com indecisões patéticas que nunca surgiriam se isto não tivesse acontecido.
Hoje estou para aqui a lamentar-me ... E eu nem gosto de me lamentar! Mas às vezes sabe bem falar sozinho, onde ninguém nos pode ouvir nem opinar; sem que ninguém possa julgar ou defender.
Eu não preciso que me compreendam, eu preciso de me compreender a mim própria.

domingo, 1 de março de 2015

Dia 72

Consigo olhar para trás e perceber que quando não temos confiança duvidamos de tudo! Até da nossa própria existência.
Os dias têm passado de forma mais fácil a partir do momento em que me comecei a aceitar como sou. Não só como condição biológica, mas como condição psicológica. Eu sou assim. E nunca devia ter deixado que alguém me tentasse mudar.
Consigo olhar para trás e perceber que não foi só uma questão que me levou ao fundo. Foram várias situações, das quais eu não me apercebi (ou não quis aperceber), mas que a pouco e pouco me foram mudando e foram levando pedacinhos de mim. Um de cada vez.
Acontece que eu deixei. E mereço até culpa por ter permitido que tal acontecesse.
Isto leva-me a crer que mais uma vez tu pensaste demasiado sobre as coisas ... Até mesmo em coisas mínimas que é suposto acontecerem naturalmente, tu não deixas. Tu pensas e organiza-las demasiado de modo a que elas aconteçam de determinada forma. Tens de deixar de fazer isso.
Consigo olhar para trás e perceber que estas palavras foram como uma regra pela qual eu me segui para "viver de forma diferente". Porque a dada altura eu achei que eu tinha de ser diferente, tinha de me transformar para poder ser "aceite".
Ridícula. Ridícula esta cabeça que sempre disse "não deves mudar por ninguém" e um dia deixou-se mudar só porque sim.
Não há como voltar atrás, é verdade. Mas ao olhar para trás, consigo ver os meus erros e perceber o quanto eles me podem ensinar daqui para a frente.
Eu não quero ser a pessoa de que todos gostam. Eu quero ser a pessoa que mais gosta de mim, e que mais orgulho tem naquilo que é. Quero que as pessoas gostem de mim pelo que sou, sem ter de fingir sorrisos só para lhes agradar.
Hoje consigo ver isso. Consigo perceber que depois de tanto tempo a acreditar que as coisas podem mudar, sou eu que com a minha vontade, faço por mudá-las e me esforço por agarrar cada pedacinho meu que perdi e juntá-lo ao que resta. Posso não conseguir apanhar todos, mas não vou desistir de voltar a ser quem era. De voltar a ser quem sou.
Não posso voltar a trás, mas também ....
A minha felicidade não depende disso.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Dia 18

É ridícula a capacidade que nós temos de aconselhar os outros para que sigam o melhor caminho, contudo nós não somos capazes de seguir os nossos próprios conselhos.
Hoje a tânia esteve cá em casa ... A tânia que tem menos 3 anos que eu foi quem, hoje, conseguiu por uma nova perspetiva à frente dos meus olhos: 
"Já nem falo no facto de nós termos saúde, mas olha aquilo que os nossos pais fazem por nós. Repara no quanto eles nos facilitam a vida e nos proporcionam o melhor dentro das suas possibilidades"
Hoje levantei-me eram 5h39 e não consegui dormir mais.
Aquele calor que me percorre o corpo todo voltou a assombrar-me e eu não resisti em ir para a sala.
A minha mãe já estava acordada, e preocupada como sempre seguiu-me e esteve comigo até eu chorar, parar de chorar, e adormecer no cansaço que fazia os meus olhos pesarem.
Estar doente também não ajuda a este estado lastimável em que me encontro. E a verdade é que só me obriga cada vez mais a pensar no que é que eu quero fazer daqui para a frente.
Eu obrigo-me a acreditar que sei o que quero, porque sei o que quero. Mas não consigo ganhar forças para lutar por isso.
O hospital deixou de ser um objetivo e passou a ser um medo que me consome de uma ponta à outra.
O que é que eu ganho em desistir? O que é que eu ganho em continuar?
Quanto tempo mais é que isto vai durar? Quanto tempo mais é que vai ser preciso até eu voltar ao normal?
Perguntas sem resposta que vagueiam na minha mente e me lixam a felicidade.
Quando a missa acabou "agarrei-me" ao Santíssimo.
Implorei-lhe, com a cara lavada em lágrimas que me ajude, me guie e me dê um sinal de que "No fim tudo vai ficar bem". E a verdade é que eu tenho esperança de que no fim tudo vá ficar bem, mas custa-me ver-me a cair aos poucos. E as quedas cada vez parecem mais altas.
As imagens na TV e na internet só me mostram que há sempre alguém pior do que eu, e nem a isso eu sou capaz de me agarrar para subir a corda que me é lançada todos os dias, por tantos que me querem puxar e levantar.
Nunca nos foi prometida a facilidade, mas sim a felicidade. Mas será que é suposto ser tão difícil encontrar a felicidade?
São 23h09 e eu só quero que a minha mãe caia no sono e adormeça em graça e em paz. Ao contrário de mim ela tem um longo dia pela frente amanhã, e  não tem medo de o enfrentar.
Só Deus sabe o que ela não sofre em silêncio para tentar suportar a minha dor.
Se ao menos ela soubesse o quanto me custa ter de ser tão frágil à frente dela e vê-la carregar uma cruz mais dolorosa do que a que ela já carrega.
Quem dera poder acordar e ver que isto não passou só de um pesadelo ...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Dia 11

Foi bom ao longo de 7 dias não ter quaisquer sinais de sintomas.
Acabar a primeira caixa de medicação e suspirar de alívio. 
"O mais difícil já passou"
Receei tanto pelo dia em que iria abrir a caixa de 75mg e ...
Pensar que as coisas seriam ainda piores, que os sintomas seriam ainda piores ... era pensamentos que me atormentavam durante estes 7 dias em segredo.
Contudo, foi bom poder comprovar quem o primeiro dia desta nova caixa foi superado com sucesso.
A situação mantém-se igual e eu .... não poderia estar mais feliz.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Dia 3

Domingo.
Dia de missa, dia de agradecimento, louvor e glória.
Foi celebrado o dia em que agradecemos a Maria pelo seu "Sim".
"Maria, como símbolo das nossas mães. Agradecemos-te Senhora, a mãe que nos destes. Toda a sua dedicação, os seus conselhos, as suas orientações e as suas correções. Pedimos perdão, Senhor, se nem sempre correspondemos a este amor e carinho. Ajudai Senhora a nossa mãe e recompensai-a por todo o seu esforço, todo o seu sacrifício e que passe a exercer com dignidade a sua missão de mãe e esposa."
Hoje, para sossego do coração da minha mãe eu não senti os sintomas da medicação.
Não sei se o meu organismo já se habituou àquelas pequenas 37,5mg, ou se foi mero despiste.
Sei que hoje descansámos: o meu corpo e a minha alma. E sei que hoje dei mais um passo em direção ao meu "Sim."; ao "sim" que aceita este problema, ao "sim" que aceita esta cruz, ao "sim" que acredita, ao "sim" que espera, ao "sim" que trabalha para, ao "sim" que não questiona como nem porquê, ao "sim" que ... sim.